Vai Passar (1984) - Chico Buarque de Holanda
Ferrenho adversário da ditadura militar, Chico lançou essa música em 1984, já no final dela. Chama o a ditadura de “página infeliz da nossa história” . E fala dos desmazelos do governo, das obras faraônicas muitas vezes desnecessárias (…”erguendo estranhas catedrais”), da corrupção (…”subtraida em tenebrosas transações”). Por fim, diz que o povo esquece de tudo no período do carnaval, “uma alegria fugaz”. Entretanto, ao mesmo tempo que foi vigiado de perto pela censura, Chico teve uma relação diplomática com ela. Hábil e astuto, bom negociante, Chico conseguia as vezes burlar a censura e liberar algumas músicas "censuráveis".
Findo o período militar, Chico teve sua irmã nomeada Ministro da Cultura. Sob sua desastrada gestão, vários artistas da MPB tiveram benefícios duvidosos da Lei Rouanet. Papagaio come milho, piriquito leva fama, Chico (que nunca se beneficiou dessa lei) acabou em desgraça. Teve seu nome massacrado nas redes sociais, que espalharam vários boatos maledicentes sobre sua pessoa.
Vai passar
Nessa avenida um samba popular
Cada paralelepípedo
Da velha cidade
Essa noite vai
Se arrepiar
Vai passar
Nessa avenida um samba popular
Cada paralelepípedo
Da velha cidade
Essa noite vai
Se arrepiar
Ao lembrar
Que aqui passaram sambas imortais
Que aqui sangraram pelos nossos pés
Que aqui sambaram nossos ancestrais
Num tempo
Página infeliz da nossa história
Passagem desbotada na memória
Das nossas novas gerações
Que aqui passaram sambas imortais
Que aqui sangraram pelos nossos pés
Que aqui sambaram nossos ancestrais
Num tempo
Página infeliz da nossa história
Passagem desbotada na memória
Das nossas novas gerações
Dormia
A nossa pátria mãe tão distraída
Sem perceber que era subtraída
Em tenebrosas transações
A nossa pátria mãe tão distraída
Sem perceber que era subtraída
Em tenebrosas transações
Seus filhos
Erravam cegos pelo continente
Levavam pedras feito penitentes
Erguendo estranhas catedrais
Erravam cegos pelo continente
Levavam pedras feito penitentes
Erguendo estranhas catedrais
E um dia, afinal
Tinham direito a uma alegria fugaz
Uma ofegante epidemia
Que se chamava carnaval
Tinham direito a uma alegria fugaz
Uma ofegante epidemia
Que se chamava carnaval
O carnaval, o carnaval
Palmas pra ala dos barões famintos
O bloco dos napoleões retintos
E os pigmeus do bulevar
Palmas pra ala dos barões famintos
O bloco dos napoleões retintos
E os pigmeus do bulevar
Meu Deus, vem olhar
Vem ver de perto uma cidade a cantar
A evolução da liberdade
Até o dia clarear
Vem ver de perto uma cidade a cantar
A evolução da liberdade
Até o dia clarear
Ai, que vida boa, olerê
Ai, que vida boa, olará
O estandarte do sanatório geral vai passar
Ai, que vida boa, olerê
Ai, que vida boa, olará
O estandarte do sanatório geral vai passar
Ai, que vida boa, olerê
Ai, que vida boa, olará
O estandarte do sanatório geral
Vai passar
O estandarte do sanatório geral
Vai passar