Juraildes da Cruz
Nota do bloguista : essa música é de tema bastante explorado : o êxodo rural, do homem do campo migrando para as cidades grandes. Carreiro é o condutor de carroção de boi.
“Memorias de um carreiro” foi magistralmente gravada pela dupla Pena Branca e Xavantinho. A dupla dá um toque de dor, queixa, saudade e sofrimento, numa estupenda interpretação. A isso, somou-se os belos acordes e solos de viola. Não encontrei nenhuma outra regravação, suspeito que dificilmente alguem ousaria tentar sequer chegar perto da qualidade da gravação da dupla.
Quando ouço na chapada
O tinir da canga e do carretão
Sinto por dentro umas pontadas
Que dor no coração
É que esse canto em eras passadas
Representava uma aliança
Entre os cascos na poeira da estrada
E meus sonhos de criança
O canto da passarada
Com o carro duelava
O azul do céu com a terra
Naquele instante se encontrava
O orvalho da manhã
Era cristal na luz do dia
Até parecia o amor
Ardente do zóio de Maria
Êee... tempo que foi
Te guardo no coração
Ê carro de boi
Sumiste no estradão !
Hoje tenho as mãos calejadas
Meu trabalho é duro e cruel
Só me restou uma sorte marvada
Boi de canga do coronel
Faço parte dessa manada
Na cidade tonta e perdida
Me vem na garganta um nó de laçada
E no meu peito uma saudade doída
A cantoria da chapada
Hoje é buzina de metal
O aboio da boca da noite
Hoje é sirene de hospital
Orvalho só resta nos olhos
O sol já não faz meio-dia *
O que ainda me sustenta
É fé em Deus e paz na guia
Êee... tempo que foi
Te guardo no coração
Êee... carro de boi
Sumiste no estradão !
* o autor provavelmente se queixa das sombras dos edifícios, que tapa o sol.
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