quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Caminho pro interior (Bruna Caram)

Caminho pro Interior

(Bruna Caram)

A manhã nasceu lá fora
O meu tempo é mesmo agora
Já vesti a roupa colorida
Na cabeça vem aquele verso
Sobre o meu novo universo

A canção que é minha preferida
Nesse rio sei andar na beira
Desvario é essa cachoeira
Trilha subindo a mata
A vista que me arrebata

Essa estrada me chamou
Eu vou… caminho pro interior

Quaresmeira se encheu de flores
Já calcei o velho tênis
Não tirei nosso bóttom da mochila
Ter de novo sua mão na minha
A razão por que andou sozinha
Nem sei mais, um sentimento não vacila

Escutei sua voz no vento
Coração salta no meu peito
Estou de alma lavada
Não chove mais na minha estrada
Seu olhar já me chamou
Eu vou…Caminho pro interior
Seu olhar já me chamou
Eu vou…Caminho pro interior

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terça-feira, 3 de novembro de 2015

Acertei no milhar (Geraldo Pereira e W.Batista)

Acertei no milhar(Geraldo Pereira & Wilson Batista)

Nota do blogger : “Morengueira”, citado na letra, trata-se do cantor Moreira da Silva, a quem a música foi oferecida para gravação. Seu apelido era “Kid Morengueira”.



Etelvina !! (o que é, Morengueira?)
Acertei no milhar!
Ganhei quinhentos contos, não vou mais trabalhar!
Você dê toda roupa velha aos pobres
e a mobília podemos quebrar
(breque)
"Isso é pra já, vamos quebrar. Pam, pam, bum, etc...
“Quebra o sofazinho, guarda roupas, compra outro minha filha"

Etelvina vai ter outra lua-de-mel
você vai ser madame
vai morar num grande hotel
eu vou comprar um nome não sei onde
de Marquês Morengueira de Visconde
um professor de francês mon amour
eu vou mudar seu nome pra Madame Pompadour

Até que enfim agora sou feliz
vou passear a Europa toda até Paris
e nossos filhos, oh, que inferno
eu vou pô-los num colégio interno
me telefone pro Mané do armazém
porque não quero ficar devendo nada a ninguém
E vou comprar um avião azul
para percorrer a América do Sul

Mas de repente, mas de repente
Etelvina me chamou está na hora do batente
Mas de repente, Etelvina me chamou,
- Se acorda, Vagulino! Saia pela porta de trás que na frente tem gente.
Foi um sonho, minha gente!


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segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Um homem chamado Alfredo (Toquinho)

Um Homem Chamado Alfredo
(Toquinho)

Nota do blogger : eu sempre julguei Toquinho apenas um bom instrumentista, deixando as composições das letras para o Vinicius. Estava eu enganado.

O meu vizinho do lado
Se matou de solidão.
Abriu o gás, o coitado,
O último gás do bujão.

Porque ninguém o queria,
Ninguém lhe dava atenção.
Porque ninguém mais lhe abria
As portas do coração.
Levou com ele seu louro
E um gato de estimação.

Ah! Quanta gente sozinha,
Que a gente mal adivinha.
Gente sem vez para amar,
Gente sem mão para dar,
Gente que basta um olhar, quase nada...

Gente com os olhos no chão
Sempre pedindo perdão.
Gente que a gente não vê
Porque é quase nada.

Eu sempre o cumprimentava
Porque parecia bom.
Um homem por trás dos óculos,
Como diria Drummond.

Num velho papel de embrulho
Deixou um bilhete seu
Dizendo que se matava
De cansado de viver.
Embaixo, assinado Alfredo,
Mas ninguém sabe de quê.

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Tarde em Itapuã (Vinicius de Moraes)


Tarde em Itapuã - Vinicius de Moraes

Nota do blogger : esta letra está nesta antologia porque é um hino à preguiça, à vadiagem !  O que dizer de uma letra que descreve uma leve embriaguez dessa maneira “…bem devagar ir sentindo / a Terra toda rodar…” ?

Um velho calção de banho
Um dia prá vadiar !
O mar que não tem tamanho
E um arco-íris no ar

Depois, na Praça Caymmi
Sentir preguiça no corpo
E numa esteira de vime
Beber uma água de côco

É bom!
Passar uma tarde em Itapuã
Ao sol que arde em Itapuã
Ouvindo o mar de Itapuã
Falar de amor em Itapuã

Enquanto o mar inaugura
Um verde novinho em folha
Argumentar com doçura
Com uma cachaça de rolha

E com olhar esquecido
No encontro de céu e mar
Bem devagar ir sentindo
A Terra toda rodar

Depois sentir o arrepio
Do vento que a noite traz
E o diz-que-diz-que macio
Que brota dos coqueirais

E nos espaços serenos
Sem ontem nem amanhã
Dormir nos braços morenos
Da lua de Itapuã

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domingo, 1 de novembro de 2015

Geni e o zepelim (Chico Buarque)

Geni e o zepelim
Chico Buarque de Holanda
Nota do blogger : Esses versos do Chico tem cara de cordel. É um hino à hipocrisia e ao preconceito. Geni, de depravada e condenada, torna-se heroina. Mas depois de passado o perigo, volta a ser repudiada.


De tudo que é nego torto
Do mangue e do cais do porto
Ela já foi namorada
O seu corpo é dos errantes
Dos cegos, dos retirantes
É de quem não tem mais nada


Dá-se assim desde menina
Na garagem, na cantina
Atrás do tanque, no mato
É a rainha dos detentos
Das loucas, dos lazarentos
Dos moleques do internato

E também vai amiúde
Com os velhinhos sem saúde
E as viúvas sem porvir
Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Vive sempre a repetir

Joga pedra na Geni!
Joga pedra na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!

Um dia surgiu, brilhante
Entre as nuvens, flutuante
Um enorme zepelim
Pairou sobre os edifícios
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim
A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geleia

Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo: "Mudei de ideia!"
Quando vi nesta cidade
Tanto horror e iniquidade
Resolvi tudo explodir
Mas posso evitar o drama
Se aquela formosa dama
Esta noite me servir

Essa dama era Geni!
Mas não pode ser Geni!
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni!

Mas de fato, logo ela
Tão coitada e tão singela
Cativara o forasteiro
O guerreiro tão vistoso
Tão temido e poderoso
Era dela, prisioneiro

Acontece que a donzela
(E isso era segredo dela)
Também tinha seus caprichos
E ao deitar com homem tão nobre
Tão cheirando a brilho e a cobre
Preferia amar com os bichos

Ao ouvir tal heresia
A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão
O prefeito de joelhos
O bispo de olhos vermelhos
E o banqueiro com um milhão

Vai com ele, vai, Geni!
Vai com ele, vai, Geni!
Você pode nos salvar
Você vai nos redimir
Você dá pra qualquer um
Bendita Geni!

Foram tantos os pedidos
Tão sinceros, tão sentidos
Que ela dominou seu asco
Nessa noite lancinante
Entregou-se a tal amante
Como quem dá-se ao carrasco

Ele fez tanta sujeira
Lambuzou-se a noite inteira
Até ficar saciado
E nem bem amanhecia
Partiu numa nuvem fria
Com seu zepelim prateado

Num suspiro aliviado
Ela se virou de lado
E tentou até sorrir
Mas logo raiou o dia
E a cidade em cantoria
Não deixou ela dormir

Joga pedra na Geni!
Joga bosta na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!



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sexta-feira, 15 de maio de 2015

A primeira missa no Brasil-João de Barros

A primeira missa no Brasil

Extraido de “Ásia, Decada I”, 1552
João de Barros


Nota do blogger : todos aprendemos que a primeira missa no Brasil foi celebrada pelo Frei Henrique Soares de Coimbra. Entretanto, um professor de historia informou-me que o nome do frei é Henrique Soares. Na verdade, Coimbra é a cidade do frei. Os livros de história deviam constar assim: “Frei Henrique Soares, da cidade de Coimbra”.
Nota do blogger 2 : João de Barros neste texto parece estar mais preocupado na “salvação” dos indios (“pagão da terra”) do que na missa.

Ao segundo dia de chegada, que era domingo da Páscoa, ele, Pedro Alvares, saiu em terra com a maior parte da gente, e, ao pé de uma grande arvore se armou um altar, em o qual disse missa Frei Henrique, guardião dos religiosos, e houve pregação. E naquela barbara terra, nunca trilhada de povo cristão, aprouve a Nosso Senhor, per os méritos daquele Santo Sacrifício, memoria de nossa Redenção, ser louvado e glorificado não somente daquele povo fiel da armada, mas ainda do pagão da terra*, o qual podemos crer estar ainda na lei da natureza, com o qual logo Deus obrou suas misericórdias, dando-lhe noticia de si naquele Santíssimo Sacramento, porque todos se punham em joelhos, usando dos atos que viam fazer aos nossos, como se tiveram notícia da Divindade a que se humilhavam; e ao sermão estiveram mui prontos, mostrando terem contentamento na paciência e quietação que tinham por seguir o que viam fazer os nossos, que foi causa de maior contemplação e devoção, vendo quão oferecido estava aquele povo pagão a receber doutrina de sua salvação, se ali houver pessoa que os pudera entender.
* pagão da terra – o índio

Primeira missa no Brasil, por Victor Meireles
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Formação do tipo rural-Oliveira Viana

Formação do tipo rural

Oliveira Viana
(extraído de “Populações meridionais do Brasil”, 1920)

Nota do blogger :este texto descreve a elite brasileira do século XVI e XVII, rica e apreciadora da boa vida.

Nada mais surpreendente do que o estudo da vida e dos costumes da aristocracia rural do Sul e do Norte, durante os primeiros séculos coloniais, principalmente nos seus dois centros mais vivazes: Pernambuco e São Paulo. Dir-se-ia um recanto de corte europeia transplantada para o meio da selvageria americana. Tamanhas as galas e as louçanias da sociedade, o seu maravilhoso luxo, o seu fausto espantoso, as graças e os requintes do bom tom e da elegância.

Da nobreza de Pernambuco, nos começos do II século, diz o autor do” Valeroso Lucideno”(9), que por miserável é tido entre ela quem não tem um serviço (1) de prata, e que as damas são tão ricas nas vestes e nos adereços, com que se adornam, que parecem “chovidas em suas cabeças e gargantas as pérolas, rubis, esmeraldas e diamantes”: – “As mulheres andavam tão louçãs (2) e custosas que não se contentavam com os tafetás, os chamalotes (3), os veludos e outras sedas, se não que arrojavam as finas telas e os ricos brocados; e eram tantas as joias com que se adornavam que pareciam chovidas nas suas cabeças e gargantas as pérolas, rubis, esmeraldas e diamantes. Os homens não haviam adereços custosos de espadas e adagas, nem vestidos de novas invenções com que se não ornassem.

Os banquetes cotidianos, as escaramuças e os jogos de canas em cada festa se ordenavam. Tudo eram delícias, e não parecia esta terra senão um retrato de terreal paraíso.”

Entre os senhores de engenho é, ao que parece, por esse tempo, a vida uma perpétua festa, uma ininterrupta troca de folganças e prazeres.

– “Há homens muito grossos (4) de 40, 50 e 80 mil cruzados de seu – diz o probidoso Fernão Cardim, descrevendo a nobreza pernambucana dos fins do I século. – Vestem-se, e as mulheres e filhos, de toda a sorte de veludos, damascos e outras sedas; e nisso têm grandes excessos. As mulheres são muito senhoras e não muito devotas. Os homens são tão briosos, que compram ginetes (5) de 200 e 300 mil cruzados, e alguns têm três e quatro cavalos de preço. São sobretudo muito dados a banquetes, em que de ordinário andam comendo um dia dez ou doze senhores juntos e, revezando-se desta maneira, gastam quanto têm, e bebem cada ano dez mil cruzados de vinho de Portugal, e alguns anos houve que beberam oitenta mil cruzados dados em rol.”

Nas fazendas do interior pernambucano, “maiores e mais ricas do que as da Bahia”, encontra Cardim igual opulência e iguais larguezas. Os senhores delas lhe fazem grandes honras e agasalhados, mas, com tão grandes gastos, que ele confessa não poder descrever. Dão-lhe “banquetes de extraordinárias iguarias” e o agasalham em “leito de demasco cramezin, franjado de ouro, e ricas colchas da Índia”. Esses aristocratas de Pernambuco guardam ainda as tradições hípicas do tempo de D. Duarte, o rei cavaleiro, que havia composto o Livro de ensinança do bem cavalgar toda sela. É de vê-los então no seu amor pelas touradas, pelas corridas, pelas cavalhadas. Cavaleiros exímios, cheios de donaire e arrojo, primam na elegância e gentileza da montaria, na riqueza dos jaezes (7), todos cobertos de prata, na destreza com que toureiam, no garbo com que praticam os jogos da argolinha, das alcancias (8), das canas.

Quando, em 1641, Nassau, em comemoração à aclamação de D. João IV, dá, em Olinda, uma grande festa, o luxo dos cavaleiros mostra-se deslumbrante: – “Como todos iam à gineta – diz Frei Manoel Calado –, corriam tão fechados nas selas, e tão compostos, e tão airosos, que levavam após si os olhos de todos, e principalmente os olhos das damas.”

Não ostenta a aristocracia colonial do sul menor suntuosidade de viver. Os homens, que a formam, vêm da mesma estirpe étnica e trazem a mesma civilização social e moral.

Como os de Pernambuco, os representantes da nobreza paulista são altamente instruídos e cultos. Nas suas relações sociais e domésticas, o tratamento que mantêm é perfeitamente fidalgo. Há entre eles um, que pode ser citado como o tipo verdadeiramente modelar de todos eles, pela grandeza, pelo luxo, pela liberalidade. É Dr. Guilherme Pompeu, da família ilustre dos Lemes. Graduado em cânones, espírito cultíssimo, é a sua casa o centro de reunião de todo o escol (10) de São Paulo; nos dias de festa é toda ela como “uma populosa vila ou corte”, tamanha a assistência e o concurso dos hóspedes. É numerosa a sua biblioteca; “ricos e de primor” são todos os seus móveis. Como das muitas arrobas de prata, que herdara dos seus pais, mandara em Lisboa pôr em obra mais polida, pode, destarte, ostentar “a copa mais primorosa que nenhum outro seu nacional”. Para maior agrado dos seus hóspedes, cultiva ele grandes vinhedos – “O vinho era primoroso, de uma grande vinha que com acerto cultivava”, diz Pedro Taques; “e, suposto, o consumo era sem miséria, sempre o vinho sobrava de ano a ano”. No preparo das iguarias e na sua profusão, tudo é igualmente primor e prodigalidade. – “Foi tão profusa a mesa do Dr. Guilherme Pompeu, que nela as iguarias de várias viandas (11) se praticavam com tal advertência que se, acabada a mesa, depois dela, passadas algumas horas, chegassem hóspedes, não houvesse para banqueteá-los a menor falta. Por esta razão estava a ucharia sempre pronta.”

Para bem avaliar-se a grandeza do tratamento com que Guilherme Pompeu honra os seus hóspedes, basta dizer que, para acolhê-los, ele tem, ricamente paramentadas, cem camas, cada uma com um cortinado próprio, lençóis finos de Bretanha (12), guarnecidos de rendas, e “uma bacia de prata debaixo de cada uma delas”, segundo o expressivo

detalhe de Taques. – “Entrava o hóspede, ou fosse um, ou muitos em número, e nunca mais, nos dias que se demoravam, ainda que fossem de uma semana ou de um mês, não tinha nenhum dos hóspedes notícia alguma dos seus escravos, cavalos e trastes. Quando, porém, qualquer dos hóspedes se despedia, ou fosse um ou quinze ou muitos ao mesmo tempo, chegando ao portão, cada um achava o seu cavalo, com os mesmos jaezes em que tinha vindo montado, as mesmas esporas e os seus trastes todos, sem que a multidão de gente produzisse a menor confusão na advertência daqueles criados, que para isto estavam destinados. Esta advertência era uma das ações de que os hóspedes se aturdiam por observarem que nunca jamais entre a multidão de várias pessoas, que diariamente concorriam a visitar e a obsequiar dias e dias ao Dr. Guilherme Pompeu de Almeida, se experimentara uma só falta, nem uma só troca de trastes a trastes”.

Como se vê, Guilherme Pompeu recebe na sua casa à maneira dos “ricos homens” peninsulares. E, como ele, toda a fidalguia paulista do tempo. Nenhum dentre estes aristocratas há que não possua de cavalos os mais finos e árdegos exemplares. De José de Góis Morais, diz, por exemplo, o mesmo Taques, que “não teve no seu tempo quem o igualasse no tratamento, porque de cavalos da melhor fama e bondade tinha muitos e todos bons em atual cavalariça, e tão briosos, que nem para beber água saíam para fora sem antolhos, nem cabeções”.

Como em Pernambuco, o cavalgar com arte, donaire (13) e luzimento se faz também aqui distintivo e pundonor (14) de nobreza.

Tal como nas cortes de amor da idade média, o coração das damas está com os que com mais gentileza e brio meneiam o ginete, farpeiam o touro ou manejam a lança nos jogos da cavalhada. É Pedro Lara, da família dos Lara, quem tem, ao que parece, no seu tempo, o primado nesses exercícios de arte da picaria. Dele nos fala Taques, como sendo, pelas suas habilidades de cavaleiro, o mais gabado dos mancebos entre as damas e o mais invejado deles entre os homens.

Pela elevação dos sentimentos, pela hombridade, pela altivez, pela dignidade, mesmo pelo fausto e fortuna que ostentam, esses aristocratas, paulistas ou pernambucanos mostram-se muito superiores à nobreza da própria metrópole. Não são eles somente homens de cabedais (15), com hábitos de sociabilidade e de luxo; são também espíritos do melhor quilate intelectual e da melhor cultura. Ninguém os excede nos primores do bem falar e do bem escrever. Sente-se na sua linguagem ainda aquele raro sabor de vernaculidade (16), que na Península parecia já haver-se perdido. Pois é aqui, na colônia, segundo Bento Teixeira Pinto, que os filhos de Lisboa vêm aprender aqueles bons termos, que já lhes faltavam, e com os quais se fazem, no trato social, polidos e distintos.

(1) Serviço : Jogo de baixelas ou outros utensílios de mesa, necessários para um determinado uso: Serviço de chá.
(2) Louçã : feminino de loução, adjetivo : elegante, garbosa, vistosa
(3) Chamalote : tecido de pelo de camelo
(4) Grosso : importante
(5) Ginete : cavalo de raça
(7) Jaez : arreios
(8) Alcancia, alcanzia : espécie de jogo hípico, em que se usa bolas de barro
(9) “O Valeroso Lucideno e Triunfo da Liberdade na Restauração de Pernambuco” é uma obra de Frei Manuel Calado, publicada em 1648
(10) Escol : a elite, a nata
(11) Vianda : comida, quitute
(12) Bretanha, bertanha : tecido muito fino, de linho ou algodão
(13) Donaire : graça no manejo do corpo, no andar etc.; distinção, galhardia, garbo.
(14) Pundonor : sentimento da própria honra, do próprio valor; amor-próprio, brio, altivez
(15) Cabedal, cabedais : posses materiais ou recursos financeiros; bens, riquezas, haveres
(16) Vernaculidade : atributos de pureza, correção, casticidade das palavras e construções de uma língua.

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