domingo, 15 de fevereiro de 2015

Marilia de Dirceu–Tomas Antonio Gonzaga-Parte II Lira XXVII

Marília de Dirceu - Parte II
Lira XXXVII

Tomás Antonio Gonzaga
Extraído de “Marília de Dirceu”

Nota do blogger : Tomás Antonio Gonzaga (Porto, 1744 – Moçambique, 1810) formou-se em Direito em Coimbra, e veio para o Brasil em 1782, onde exerceu cargos públicos. Casou-se com sua musa Marilia, D. Maria Dorotéia Joaquina de Seixas. Envolvido na Inconfidência, foi degradado para Moçambique. Ali abandonou a poesia e reconstruiu sua vida.


Meu sonoro Passarinho,
Se sabes do meu tormento,
E buscas dar-me, cantando,
Um doce contentamento,

Ah! não cantes mais, não cantes,
Se me queres ser propício;
Eu te dou em que me faças
Muito maior benefício.

Ergue o corpo, os ares rompe,
Procura o Porto da Estrela,
Sobe a serra, e se cansares,
Descansa num tronco dela,

Toma de Minas a estrada,
Na Igreja nova, que fica
Ao direito lado, e segue
Sempre firme a Vila Rica.

Entra nesta grande terra,
Passa uma formosa ponte,
Passa a segunda, a terceira
Tem um palácio defronte.

Ele tem ao pé da porta
Uma rasgada janela,
É da sala, aonde assiste
A minha Marília bela.

Para bem a conheceres,
Eu te dou os sinais todos
Do seu gesto, do seu talhe,
Das suas feições, e modos.

O seu semblante é redondo,
Sobrancelhas arqueadas,
Negros e finos cabelos,
Carnes de neve formadas.

A boca risonha, e breve,
Suas faces cor-de-rosa,
Numa palavra, a que vires
Entre todas mais formosa.

Chega então ao seu ouvido,
Dize, que sou quem te mando,
Que vivo nesta masmorra,
Mas sem alívio penando.

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