quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

A vendedora de bilhetes de loteria

Extraido do livro Cantos sem Gloria, 1953

Raul Machado Campelo

Aquela mulher, de olhos tristonhos,
Que vende sorte de loteria,
Fala em riquezas, promete sonhos,
Com o “prêmio grande” que tem na mão…

E assim, (contraste feito ironia!)
Numa indigência, que mal encobre,
Fala em riquezas quem é tão pobre!
Promete ouro quem não tem pão!

De rua em rua, na amarga luta,
Com o olhar sumido, que o pranto molha,
E a voz tão baixa, como uma prece…
Passa um banqueiro, que não a olha;
Passa um soldado, que não a escuta;
Passa um poeta, que ela entristece.

Se a chuva cai, não lhe importa a roupa,
Que até se lava com a chuva forte.
Só os bilhetes é que ela poupa!
Nem a doença lhe dá cuidados,
Pois a pobreza não teme a morte…

A noite chega. E ela, vencida
Do ingrato ofício na luta em vão,
Retorna a casa, desiludida,
Depois de haver, por um dia inteiro,
Vendido aos outros tanta ilusão!

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