quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Homo (Antero de Quental)

Antero de Quental (* 1842, +1891)
Escritor português açoriano

Soneto intimista, parece que o poeta guardava um terrível segredo de natureza pessoal, e não tinha coragem de revela-lo.

Nenhum de vós ao certo me conhece,
Astros do espaço, ramos do arvoredo,
Nenhum adivinhou o meu segredo,
Nenhum interpretou a minha prece...

Ninguém sabe quem sou... e mais, parece
Que há dez mil anos já, neste degredo,
Me vê passar o mar, vê-me o rochedo
E me contempla a aurora que alvorece...

Sou um parto da Terra monstruoso*;
Do humus primitivo e tenebroso
Geração casual, sem pai nem mãe...
Misto infeliz de trevas e de brilho,

Sou talvez Satanás;—talvez um filho
Bastardo de Jeová;—talvez ninguem!

* “Sou um parto monstruoso da Terra”

------------F I M -------------------------------------

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