quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

O Milagre do Nordeste (Olegário Mariano)

Olegário Mariano

Ante a desolação da terra comburida,
O homem, depondo a enxada, acurvado de mágoa,
Pôs o joelho e mal pôde dizer:
“Deus! Com o sol que me dás, tu me tiras a vida...
Manda-me por piedade um pouco d’água
Para o meu pobre gado não morrer...”

E apontava com o braço escarnado a campina
Onde os trapos daquela imensa ruína
Mugiram com vergonha de viver.
“Deus! Meu cavalo ontem morreu de fome e sede...
Enterrei-o envolvido em minha rede:
Era o que eu tinha de melhor para lhe dar.”

E sem poder dizer tudo o mais que sentia,
Os braços alongando à tarde que morria,
O homem, junto da enxada, atirou-se a chorar...
E sobre ele choveu a noite toda, sem parar.

------------F I M -------------------------------------

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Um comentário:

Anônimo disse...

MAGNIFICO, OLEGARIO MARIANO! SENSIBILIDADE FRATERNAL!