Meninos carvoeiros - Manoel Bandeira
Manoel Bandeira, 1921
Nota do autor deste site : apreciadores de uma boa picanha, tremei ! Saibam que a produção de carvão vegetal foi até o final dos anos 90 uma atividade que explorava largamente o trabalho infantil. Parece que essa exploração é de tempos, como descreve Manoel Bandeira nesses versos.
— Eh, carvoero*!
E vão tocando os animais com um relho enorme.
Os burros são magrinhos e velhos.
Cada um leva seis sacos de carvão de lenha.
A aniagem* é toda remendada.
Os carvões caem.
(Pela boca da noite vem uma velhinha que os recolhe, dobrando-se com um gemido.)
— Eh, carvoero!
Só mesmo estas crianças raquíticas
Vão bem com estes burrinhos descadeirados.
A madrugada ingênua parece feita para eles . . .
Pequenina, ingênua miséria!
Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como se brincásseis!
—Eh, carvoero!
Quando voltam, vêm mordendo num pão encarvoado,
Encarapitados nas alimárias,Apostando corrida,
Dançando, bamboleando nas cangalhas
como espantalhos desamparados.
* carvoero – a grafia correta seria “carvoeiro’'. Bandeira teria usado a linguagem coloquial, já que a palavra está incluida em um chamado.
* aniagem : tecido rustico, de algodão ou linho, usado para fazer sacos.* alimária : animal irracional (no caso, as montarias)
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