Mulher jurada
Extraído de “Políticos e outros bichos domésticos”
Alberto (Maia Barreto) Deodato
Nota do blogger : não sei exatamente a data deste texto. O autor é um advogado nascido em 1890, tendo falecido em 1978. O texto foi então escrito em uma época de machismo, de preconceito contra mulher. O advogado sugere nesta crônica que a mulher não serve para ser jurada, por ser muito passional e tendenciosa em seus julgamentos.
Houve por aqui uma enquete sobre a mulher no júri. E o jornalista veio a mim, para que lhe dissesse se era a favor ou contra a inclusão da mulher como jurada. Mulher para julgar o seu semelhante. Respondi com dois fatos a que assisti na minha vizinhança. E o que se deu com a minha vizinha se passa na casa de todos nós. Basta haver mulher que seja mãe. O caso é que uma garota de cinco anos, residente perto, jogou uma pedra que atingiu em cheio o filho da minha vizinha. Foi um deus nos acuda. A mulherzinha esbravejou por mais de meio dia. E não fosse o marido, ela sairia pela porta afora para esganar a garotinha que apedrejara o filho.
- Mas, minha mulher, voce tem coragem de se vingar de uma criancinha de cinco anos, porque jogou uma pedra. Menina dessa idade não tem juízo – dizia-lhe o marido.
- Não tem ? – esbravejou a mulher. Então, um demônio desse tamanho, com cinco anos de idade, pega uma pedra enorme, quase mata o meu filho e eu vou ficar sem castigar ?
- Mas, raciocine, minha mulher. É uma criança de cinco anos.
- Me largue, que eu estou com vontade de esganar aquela desgraçada.
- Acalme-se.
- Voce é que é pai desnaturado. Me largue, que eu não suporto.
A muito custo, o marido a conteve.
Há três anos, aconteceu, exatamente o imprevisto. Bateu à porta da mesma vizinha uma senhora de outro quarteirão, da mesma rua :
- Dona Amélia esta ?
Quando a vizinha apareceu, a senhora lhe foi dizendo :
- Dona Amélia, venho lhe pedir para chamar a atenção de seu menino. Ele fez, com um cacete, enorme rombo na cabeça da minha filha. Não o castigue. Mas chame, apenas, a sua atenção.
A vizinha olhou a queixosa de cima a abaixo:
- A paulada não me admira, dona Graziela. O que me faz ficar passada é a senhora vir à minha casa se queixar de meu filho, um garoto de sete anos...
- Não me venho queixar, dona Amélia. O seu menino já é taludinho.
- Então, um menino de sete anos tem juízo, dona Graziela ? O que ele fez, toda criança faz. Foi uma brincadeira.
Ia começar o bate boca, quando o marido chega. Levou-a para dentro de casa. Mas lá, como vizinho, ainda ouvi a sua voz :
- Uma idiota essa dona ! Queixar-se de um garotinho e sete anos ! Onde se viu isso ?!
A decisão de uma mulher no júri será assim.
------------F I M -------------------------------------
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